sábado, 3 de maio de 2008

"A alma gráfica" (por Fernanda Cury)


"A alma gráfica" é o nome da exposição de desenhos de outro artista que vive no nordeste, Francisco Brennand (1927), e está sediada na Caixa Cultural São Paulo, no prédio do Conjunto Nacional até o dia 25 de maio de 2008.
Brennand possui uma oficina, pertinho de Recife, que funciona, ao mesmo tempo, como seu ateliê, como uma indústria de cerâmica e revestimentos, e ainda, como um museu, onde expõe, em um grande jardim e em galpões, mais de mil e duzentas esculturas feitas em argila queimada em alta temperatura e que têm um ar dramático, de mistério, pessimista, que quer expressar o belo terrível.
Mas ele não se dedica apenas à escultura. É artista mais completo, que domina todas as técnicas de pintura, misturando em suas obras momentos mágicos, climas inquietantes de sonhos, de exorcismo.
Nessa exposição, temos cerca de cinqüenta desenhos coloridos, que serviram de projeto para suas esculturas e que mostram um trabalho cheio de liberdade, força e ousadia. Seus traços, em alguns momentos, chegam até mesmo a ser rudes, mostrando um universo denso, dramático, misterioso da figura feminina, como no caso da obra acima, denominada "O seqüestro".
Segundo o crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, seus desenhos "são produtos do universo vasto mas unitário de seu espírito, com suas crenças, seus pensamentos, seu talento, seus desejos, seus fantasmas, dúvidas, sofrimentos e remédios, que se têm manifestado com mais loquacidade e clareza na escultura (...)."
De fato, Brennand não esconde seu pessimismo, sua crença de que não há meios desse mundo corrupto, beligerante, melhorar... Não acredita que o ser humano é bom e tem em mente que o fatal não é representado apenas pela morte, mas também pelo sofrimento que vivenciamos, dia-a-dia.
São essas inquietações, essas dores, esse pessimismo, essa desilusão, que permeia toda a obra do artista, que cria metáforas para a violência, para o poder, para a mesquinhez, e faz emergir o belo, não do equilíbrio e da harmonia, mas do sinistro, do terrível, do expressivo.
Quem estiver caminhando pela Paulista, vale conferir a obra de Brennand. Além de ela poder servir de fonte de inspiração para futuros trabalhos, a exposição é de graça.

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