terça-feira, 15 de abril de 2008

"Chega de Saudade" (por Fernanda Cury)


O filme Chega de Saudade de Laís Bodanzky nos leva a passar uma noite entre as "figurinhas carimbadas" de um salão de dança de São Paulo, embalados pela trilha sonora nostálgica de Elza Soares e Markus Ribas.

A forma como Walter Carvalho conduz a câmera, deslizando pelo salão, faz com que transitemos de uma cena a outra, como se tivéssemos participando do baile, de forma anônima.

Focaliza o show de pés, pernas e quadris em movimento (com a câmera colocada provavelmente na altura da cintura). Depois passa para copos, garrafas, figurinos e outros objetos. Mais tarde, mostra uma vista aérea do salão iluminado como uma discoteca. E o mais importante: apresenta seus personagens em big close, sob uma luz que revela sua rugas e nos permite captar os sentimentos estampados em suas admiráveis expressões faciais.

A aproximação da câmera, sem dúvida, cria intimidade, fazendo com que o personagem se desnude, como se mergulhássemos nos poros do artista, invadindo sua alma, descortinando suas emoções.

Embora alguns personagens possam nos agradar mais, outros menos, não podemos estabelecer uma ordem de importância entre eles, ficando claro que Laís quis "amarrar", através da dança e da música, vários universos distintos, mas que cabiam em um lugar comum: o salão.

Sob as luzes "piscantes" do salão de dança, desfilam sonhos, ilusões, frustrações, alegrias, tristezas, desejos, ciúmes, nostalgia e algumas recordações gastas (flash backs), quase em preto e branco.

Embora possa agradar mais ao público da terceira idade (já que olhos preconceituosos tenderão a pensar tratar-se de um filme sobre as "estrelas globais decadentes"), retrata relacionamentos e situações que poderiam muito bem ser transportados para o universo do jovem que, como todo o ser humano, carrega dentro de si uma coleção de sentimentos e emoções, como nossos personagens.

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